O cantor Milionário, com seis décadas de serviços prestados à música, tem o privilégio de olhar para trás e observar tudo o que construiu no sertanejo. Entretanto, ele quis mais. O artista iniciou, neste ano, o processo de produção de um documentário para contar a história de seus 81 anos de vida, 42 deles ao lado do parceiro José Rico, que morreu em 2015, e com quem ganhou o apelido de “gargantas de ouro do Brasil” e formou uma das mais aclamadas e reconhecidas duplas de todos os tempos no segmento.
Em entrevista exclusiva ao G1 por videoconferência, Milionário, que mora em Mogi Mirim (SP) há 39 anos, revisitou o legado, muito lembrado até hoje por duplas da nova geração sertaneja, detalhou pela 1ª vez como será o documentário sobre sua carreira, que terá a participação de grandes astros do segmento, e revelou que ainda mantém o hábito de sempre ouvir as músicas da época da dupla com Zé Rico.
Ao lado da filha, Joana Matos, Milionário afirmou que o documentário vai contar, por meio de depoimentos, vídeos e fotos, a história do garoto que saiu de Monte Santo de Minas (MG), começou a cantar, se mudou para São Paulo e ficou eternizado na música sertaneja com um estilo próprio e hits como “Estrada da Vida”. Veja detalhes da entrevista no vídeo acima, com direito a um trechinho de “Cabocla Tereza”, clássico na voz de Tonico e Tinoco.
O objetivo do projeto, que será lançado até o fim de 2022, é mostrar a importância de Milionário e José Rico na carreira dos artistas entrevistados. O responsável pela produção será João Luís Borges e a ideia do cantor é convidar amigos como César Menotti, Chitãozinho, Zezé di Camargo, além de ícones da geração mais atual do sertanejo, a começar por Jorge e Mateus, Zé Neto e Cristiano e os irmãos Victor e Léo, que encerraram a dupla em 2018.
Por conta da pandemia da Covid-19, o início das filmagens precisou ser adiado, mas a ideia da equipe é começar a gravar ainda este ano. “Vai ter eu cantando, gravações antigas, muitas fotos também, vai ter de tudo”, disse Milionário. Segundo Joana, a intenção é que o documentário chame “Gratidão”. “Também vamos atrás, não só dos artistas para dizer a importância do meu pai, mas também de todas as pessoas que ainda estão vivas e que fizeram meu pai chegar onde chegou”, completou.
‘O que eu fiz já está muito bom’
Depois da morte do amigo Zé Rico, vítima de um ataque cardíaco no dia 3 de março de 2015 em Americana (SP), Milionário formou uma parceria com Marciano (da clássica dupla com João Mineiro) por três anos, até o falecimento do cantor, em 2019. Agora, em outro momento da vida, o artista diz que não vai mais assumir nenhum compromisso fixo e só aceitará convites específicos de participações em shows e projetos.
O último deles, inclusive, aconteceu no dia 28 de agosto, quando participou da gravação do DVD da dupla Lucas e Luan, durante a transmissão da Festa do Peão de Barretos (SP) – ainda sem público por conta da pandemia. “Eu estou parado, faço uma live de vez em quando, alguma apresentação de algumas pessoas que procuram. Procurando eu estou aí, mas eu não estou afim de fazer dupla, ou banda, eu já cantei muito, então o que eu fiz já está muito bom”, brincou.
ntre as apresentações esporádicas e o descanso na chácara que tem em Mogi Mirim – onde chama amigos para cantar, tocar violão e fazer churrasco – Milionário ainda tem tempo para ouvir novos artistas. O cantor vê com bons olhos a união da música sertaneja com outros estilos, como o funk, além da pisadinha, uma inovação do forró que estourou neste ano e ganhou muita abertura dentro do gênero.
“Quando Milionário e José Rico queriam projetar diferente, nós colocamos bateria e guitarra nas nossas músicas e fomos criticados pelos programadores de rádio, mas a gente precisava mudar. Antes era só aquela violinha, viola e violão, a gente precisava mudar para poder acontecer. Colocamos corais também e isso ajudou muito. Essa união de estilos é boa. O forró é brasileiro, então nós temos que prestigiar, escutar para ver o que esse povo diz na música”, explicou.
‘Não penso no tamanho que eu tenho’
O artista ainda afirmou que procura não pensar muito sobre o tamanho e a influência que ele tem dentro do sertanejo e prefere só “agradecer a Deus”. Um dos exemplos dessa importância é que até hoje Milionário e José Rico são dos mais regravados por outros artistas, o que também é inteiramente aprovado pela eterna segunda voz da dupla. As homenagens até incentivam o cantor a pensar em um projeto de resgate da obra.
“Eu não fujo do assunto não. Se surgir a possibilidade de fazer um trabalho de resgatar nossas músicas, uma gravadora, para resgatar o nosso repertório, vamos lá, vamos enfrentar. Sobre as regravações, eu acho que o estilo do Milionário e José Rico são poucas duplas que seguem, não digo igual, mas chegam quase lá. Eu acho que tem que seguir o estilo. Não pode fugir” pontuou.
Vacinado contra Covid-19 pelas duas doses, Milionário, aos poucos, retoma a rotina normal, ainda tomando todos os cuidados para evitar a doença. O sertanejo acredita estar muito melhor de saúde atualmente do que há alguns anos, quando passou por um problema no coração e precisou ficar internado em um hospital de Rio Preto (SP).
“Graças a Deus eu fiz um trabalho muito bem feito, meu médico, doutor João leal, de Rio Preto, disse pra mim que do coração eu não vou morrer, porque ele fez um trabalho muito bom. Minha saúde está ótima”, finalizou.
Por Marcello Carvalho, G1